domingo, 25 de outubro de 2015

OPINIÃO POR BORIS FELDMAN


Quem paga o pato?


Não bastassem todas as maracutaias do governo no nosso combustível, ele acaba de confessar não estar fiscalizando sua qualidade.


Fiscalização da ANP acabou (foto ANP)

A gasolina não teve aumento durante anos, pois a presidente queria conter a inflação. Além disso, o imposto sobre derivados do petróleo (a Cide, Contribuição de Intervenção no Domínio Econômico) foi eliminado para reduzir seus preços. Até a reeleição de Da. Dilma, o brasileiro abasteceu com preços artificialmente contidos na gasolina, álcool e diesel. Mas o governo não pode cometer descalabros a vida inteira, pois um dia a conta chega. Quando chegou, quem pagou o pato foi o consumidor. Que teve seu bolso duplamente onerado no posto: pelo preço da gasolina que subiu apesar do custo internacional do petróleo ter despencado. E pelo óbvio retorno da “contribuição” Cide. Não bastasse, Da. Dilma prometeu para os usineiros, durante sua última campanha eleitoral, o aumento da mistura do álcool na gasolina. Mais uma continha para o bolso do motorista, pois ele paga por um litro de gasolina mas recebe 27% de álcool, que tem menor valor energético: quanto maior sua proporção na mistura, maior o consumo do motor. E problemas de oxidação no automóvel.
Nossa gasolina é de muito boa qualidade, entre as melhores do mundo em termos de octanagem e teor de enxofre. Entretanto, falta resolver dois problemas:
1- o primeiro é a aditivação, estabelecida como obrigatória em todo o país desde janeiro de 2014. Mas, como se trata de uma operação que exige entendimentos entre a ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis), refinaria, distribuidoras e fabricantes dos aditivos, as partes não se entenderam e a medida foi adiada para julho deste ano. Mais discussão entre os envolvidos e a ANP voltou a adiá-la por mais dois anos. Se nestes 24 meses chegarem todos a um acordo, somente em julho de 2017 nossa gasolina será aditivada.
2 – o segundo é a fiscalização. Cabe à ANP zelar pela qualidade do combustível nacional. Proteger o consumidor contra as distribuidoras e postos desonestos que aumentam os percentuais de álcool na gasolina, de água no álcool, de biodiesel no diesel… só o GNV, por suas características físicas, escapa da adulteração.
A ANP não tem infra-estrutura nem fiscais suficientes para controlar a qualidade nos quase 40 mil postos do país. Estabeleceu então um convênio com laboratórios de institutos técnicos e universidades para o monitoramento dos combustíveis. A partir deste controle se realiza a fiscalização no posto. Mas, com o corte generalizado de verbas federais, a ANP foi também punida e o cidadão brasileiro volta a pagar a conta (ou o pato…), pois ela não teve condições de renovar os contratos que venceram este ano. A rigor, combustíveis fornecidos em 20 estados brasileiros correm maior risco de estarem adulterados. Se o motorista já se sente roubado por ter que engolir quase 1/3 de álcool na gasolina, pode se preparar, pois postos desonestos fazem o combustível “flex” por conta própria, adicionando ainda mais álcool em proporções que podem superar os 50%. Acrescentam também mais água no álcool, muito além dos 7% previstos pela legislação. A análise de amostras de álcool colhidas em postos no litoral revelou até a presença de sal proveniente de água do mar.
O resumo da ópera é que poderíamos ter uma das melhores gasolinas do mundo, mas sofremos com a irresponsabilidade do governo federal que manipula seus preços, adiciona álcool em percentuais muito acima do padrão, não tem capacidade técnica para estabelecer sua aditivação e, agora, confessa não ter verbas para fiscalizar sua qualidade. E quem paga o pato, como sempre…
BF
Boris Feldman, jornalista especializado em veículos e colecionador de automóveis antigos, autoriza o Ae a publicar sua coluna veiculada a

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