domingo, 6 de setembro de 2015

OPINIÃO POR BORIS FELDMAN

Além de a “ondulação transversal” ser uma invenção de idiotas a serviço da mediocridade, seus padrões são rigorosamente desrespeitados pelas autoridades de trânsito no Brasil.
 Lombada de dimensões irregulares e sem pintura regulamentar, a maioria; notem-se as marcas deixadas por veículos que a atingiram: crime do poder público
Lombada (quebra-molas) deveria ser proibida, pois existem soluções mais modernas e menos estúpidas de obrigar o motorista a reduzir velocidade. Se o prezado leitor já viajou para o Primeiro Mundo, com que freqüência viu esta abominável invenção de idiotas a serviço da mediocridade? Quando (raramente) existem, respeitam os padrões e são dimensionadas para não agredir o automóvel. Lombada, já existe a eletrônica. Mas nosso obsoleto código de trânsito previa a “ondulação transversal” que, ainda por cima, tem seus parâmetros rigorosamente desrespeitados por todas as autoridades de trânsito municipais, estaduais e federais. Mais:
– Bandido adora, pois faz o motorista quase parar e reduzir a velocidade muito mais que necessário, facilitando o assalto;
– Oficina também, pois a maioria destes obstáculos tem dimensões muito acima das estabelecidas e o carro esbarra embaixo ou porque a lombada não foi sinalizada e percebida em tempo hábil, ou porque o motorista só a avistou em cima da hora, aplicou freios com vontade e abaixou a frente do carro, ou por ser muito alta e, mesmo com o automóvel em baixa velocidade, atinge em cheio cárter, travessas e caixa de marchas do automóvel, principalmente o do tipo esportivo, com menor altura do solo. Quem paga os prejuízos decorrentes da lombada que foge às especificações do Contran?
– Se o carro que vem atrás não souber (ou adivinhar) que tem o obstáculo plantado à frente, ainda bate na traseira do outro que reduziu a marcha. Já houve registro de inúmeros acidentes nestas condições, com danos materiais em ambos, além de feridos e mortos. Quem é responsável por eles? O Ministério Público já se manifestou?
– Finalmente, mas não menos importante, cada vez que o motorista freia para reduzir a velocidade e acelera novamente, aumenta o consumo de combustível e emissões.
A lombada é regulamentada pelo Contran, mas as próprias autoridades de trânsito desrespeitam sua legislação. Entre outras restrições, ela não pode, por exemplo, estar numa via que seja itinerário de linha regular de ônibus. Sua altura máxima é de 8 cm para um comprimento mínimo de 1,5 m. Ou 10 cm para uma extensão de 3,70 metros. Só pode ser colocada depois de estudos que comprovem sua necessidade e a impossibilidade de se adotar outros recursos para a redução de velocidade no local. Além disso, a lei é muito objetiva ao proibir “a utilização das ondulações transversais e de sonorizadores como redutores de velocidade, salvo em casos especiais definidos pelo órgão ou entidade competente, nos padrões e critérios estabelecidos pelo Contran”. E quem é o responsável pela lombada irregular? Diz o parágrafo único do artigo 246 do CTB: “A penalidade será aplicada à pessoa física ou jurídica responsável pela obstrução, devendo a autoridade com circunscrição sobre a via providenciar a sinalização de emergência, às expensas do responsável ou, se possível, promover a desobstrução”. Ou seja: existe legislação para punir os irresponsáveis que autorizam (ou fazem vista grossa) as “ondulações transversais” irregulares. Basta cumpri-la e puni-los.
Dica: ao avistar uma lombada em cima da hora, pise no freio para valer. Mas, antes de passar por ela, tire o pé para não deixar a frente do carro “mergulhada”, aumentando os riscos de impacto contra algum componente mecânico. E não siga a recomendação de passar diagonalmente por uma lombada, o que provoca uma desnecessária torção do automóvel.
Historinha final: nas décadas de 60 e 70, Piero Gancia importava os Alfa Romeo (além de ter montado a equipe Jolly-Gancia), que tinham o subcárter (bandeja inferior do cárter) muito baixo. Tão baixo que esbarrava com facilidade nas lombadas, mesmo tirando o pé. E colocar um “protetor” era uma “faca de dois gumes”, pois deixava o carro ainda mais baixo! Era tanta pancada que o Emilio Zambello (amigo e colega de equipe do Piero), que fabricava peças em liga leve, decidiu fazer o subcárter para o mercado de reposição. Eu tive um desses Alfas e, ao viajar, antes mesmo da bagagem (apesar do porta-malas restrito), acomodava o tal subcárter e sua junta: vai que pintasse – sem aviso – uma dessas famigeradas no asfalto…
BF
Foto: omundoemmovime

Nenhum comentário: