segunda-feira, 30 de março de 2015

OPINIÃO COM BORIS FELDMAN

OPINIÃO DE BORIS FELDMAN

por Boris Feldman - 28/03/2015

Crônica de uma facada não anunciada



A presidente articulou mais um aumento do custo da gasolina, desta vez não percebido pelo motorista, pois veio no vácuo do novo percentual de álcool.

Preços comb
O motorista foi surpreendido, depois das eleições de 2014, por dois aumentos no preço da gasolina: o primeiro anunciado pela própria Petrobrás e o segundo pelo retorno dos impostos (Cide). Outro aumento na semana passada, este no vácuo do novo percentual de 27% do álcool misturado à gasolina que aumenta o consumo de combustível e de quebra, a emissão de gases poluentes.
Promessa- No ano passado, em plena campanha eleitoral, d. Dilma prometeu aos usineiros aumentar o percentual de álcool na gasolina, de 25% para 27%, que representaria um acréscimo na demanda anual do álcool anidro em um bilhão de litros. A idéia era aumentar seu faturamento (e rentabilidade) para compensar os prejuízos causados pelos preços do álcool, atrelados aos da gasolina e congelados para conter a inflação. Várias usinas quebraram, outras estão em estado pré-falimentar. Bom para os usineiros, bom também para a Petrobrás: mais álcool, menos gasolina importada. Reduz também seus custos de produção, pois o aumento do álcool na mistura permite reduzir a qualidade (octanagem) da gasolina. O motorista não percebeu a “facada”, pois o preço na bomba não mudou, apenas se reduziu o conteúdo de energia em cada litro do combustível: o derivado de cana tem valor energético 30% menor que o do petróleo.
Lei – Havia, entretanto, um complicador técnico: nossa gasolina já continha 25% de álcool, embora os automóveis tenham sido testados para um percentual máximo de 22%. A Anfavea, associação das fábricas de automóveis, objetou contra mais este acréscimo alegando possíveis danos aos automóveis.
Dona Dilma, mais preocupada com seus votos do que com o bolso do motorista, enviou ao Congresso Nacional uma lei oficializando o percentual de 27%, aprovada com uma ressalva: comprovar sua viabilidade técnica. E se iniciaram, em outubro de 2014, dois tipos de testes: a Petrobrás realizaria os de dirigibilidade, para verificar eventuais problemas de funcionamento do motor. Concluídos antes do final do ano, sem registro de anormalidades. A Anfavea se encarregou da durabilidade, para se certificar de que não ocorreriam problemas de oxidação (ferrugem) no automóvel. Várias fábricas puseram seus carros para rodar com o novo combustível, mas durante apenas seis meses (outubro de 2014 a março de 2015), prazo considerado insuficiente por muitos engenheiros do setor, coerente apenas com a urgência manifestada pelos interessados na medida. Pressionada pelos usineiros superestocados, d. Dilma atropelou critérios técnicos e autorizou misturar os 27% antes mesmo do final dos testes das fábricas.
Danos – Na semana passada, a Anfavea encerrou seu programa de avaliação sem registro de oxidação nos automóveis. Mas verificou um aumento no consumo de combustível de até 2%. E, ao contrário do que afirmam os usineiros, um acréscimo no nível de emissões de gases poluentes.
Desde a semana passada, portanto, motoristas que abastecem com gasolina não foram informados, mas vão desembolsar mais pelo combustível. Supondo uma média de 15 mil km rodados por ano e com um consumo médio de 10 km/l, cada carro é abastecido anualmente com 1.500 litros. Com o litro a R$ 3,30, a despesa por ano é de R$ 5.000. Um acréscimo de 2% no consumo aumenta em cerca de R$ 100 a conta do combustível.
Quanto às emissões, é difícil estimar os danos aos pulmões provocados pelo aumento dos gases do escapamento.
BF

boris
Boris Feldman, jornalista especializado em veículos e colecionador de automóveis antigos, autoriza o Ae a publicar sua coluna publicada aos sábados no jornal Hoje em Dia, de Belo Horizonte (MG).

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