quinta-feira, 25 de setembro de 2014

O voo do besouro por Jason Vogel

Fusca de 544cv disputará provas de rallycross


O New Beetle da década de 90 era apenas um carro retrô bonitinho. Aí resolveram que essa alegre joaninha deveria ser transformada em um escaravelho do diabo. Assim, a geração lançada em 2011 veio ao mundo com mais testosterona.

A novidade agora é que o besouro ganhou um ferrão realmente venenoso: é uma versão desenvolvida para rallycross.

Antes de descrever o carro, vale a explicação: rallycross é um tipo de corrida em circuito misto: tem asfalto liso, terra batida e saltos, mesclando características de corrida de pista, rali de velocidade e autocross.

Há diversos campeonatos de rallycross pelo mundo. O Fusca em questão foi projetado para substituir os VW Polo na equipe Andretti, que disputa o torneio GRC (sigla de Global Rallycross), organizado nos Estados Unidos.


Esse besouro enfrentará modelos como Ford Fiesta (carro do lider do campeonato, Nelson Piquet Jr.), Subaru WRX STi, Chevrolet Sonic, Citroën DS3 e Hyundai Veloster Turbo.

O ponto de partida é um monobloco de Fusca normal, feito em Puebla, no México. O motor é tranversal, dianteiro, de apenas 1,6 litro. Mas não se engane: graças a um turbocompressor gigante e a alguns truques, chega-se a incríveis 544cv! É potência equivalente à dos monstruosos (e reverenciados) carros do Grupo B que disputavam o mundial de rally na década de 80.

Outro ponto importante é que esse besourão tem tração nas quatro rodas. Com isso, a suspensão traseira teve que ser modificada, deixando de ser multibraço e adotando o padrão McPherson.


Agora imagine fazer um bom acerto tanto para velocidade no asfalto quanto para grandes saltos (sim, os besouros podem voar).

A “pele” externa da carroceria continua a ser de aço, mas para-choques diferentes, enormes aerofólios traseiros e várias aberturas para entradas (e saídas) de ar foram feitas.



No fim, o Fusca anabolizado pesa 1.210 quilos e pode fazer o 0-100 em 2,2s. A máxima não importa tanto no rallycross.



Os antecessores espirituais

Ralis na Europa e ‘penicos atômicos’ no Brasil

O Beetle atual raramente é usado em competições. Já o Fusca original, com motor traseiro, sempre marcou presença em ralis e corridas, principalmente nas décadas de 50 e 70.

Versatilidade, robustez, preço baixo e facilidade de preparação explicam o fato de um carrinho popular ter feito tanto sucesso no automobilismo.

O apogeu da participação do Fusca em provas na Europa aconteceu quando a Porsche Salzburg (divisão austríaca da marca de esportivos) decidiu deixar as corridas em autódromos e investir em ralis.

Em vez de usar um modelo fabricado pela Porsche, a equipe decidiu preparar Fuscas, mais aptos a estradas de terra. E, afinal, o besouro fora projetado por Ferdinand Porsche!


Assim nasceram os carros batizados de Salzburg Rallye Käfer. Feitos a partir dos Fusca 1302 e 1303 (modelos alemães com supensão McPherson na dianteira), esses carros tinham motor 1.600 “fuçado” para render 129cv. A preparação incluía radiador de óleo de Porsche 908...

A proteção do motor e do chassi era garantida por peitos de aço. O câmbio era especial, mas mantinha apenas quatro marchas, e a suspensão levava apenas pequenos ajustes de geometria (além da troca de amortecedores).

Assim, os endiabrados besouros de Salzburg venceram várias provas de rali na Europa entre 1971 e 1973.

No Brasil, o Fusca também fez bonito em ralis (de regularidade, em especial). Mas, por aqui, o maior brilho esportivo do Volks aconteceu em autódromos, nas corridas da Divisão 3.

O regulamento dessa categoria dos anos 70 permitia preparação pesada: cortar para-lamas, aliviar bem a carroceria, fazer alterações aerodinâmicas e usar pneus slick.

Nas pistas, havia Opala, Maverick, Passat , Brasília... mas o que chamava a atenção eram os Fuscas e seus motores 1.600 cheios de veneno. Baixinhos, largos e muito brabos, foram apelidados de Penicos Atômicos.

Com pilotos como Arturo Fernandes e Amadeo Campos, os “Penicos” ganharam muitas corridas até o início dos anos 80.


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