sábado, 13 de abril de 2013

ALTA RODA COM FERNANDO CALMON




Alta Roda nº 728 — Fernando Calmon — 9/4/13




GANHA-SE MUITO OU POUCO?




Conhecidos os resultados consolidados da indústria automobilística em março, que a Anfavea divulga todos os meses, poucos atentaram a um pormenor estatístico. Pela primeira vez as quatro maiores marcas – Fiat, Ford, GM e VW – alcançaram 68,6% dos automóveis e comerciais leves comercializados. Ou seja, ainda representam pouco mais de dois terços das vendas, mas pela primeira vez abaixo de 70%.
Não é tão incomum, em outros países, as quatro maiores marcas dominarem cerca de dois terços do comércio interno, ao contrário do que muitos pensam. Japão e Índia são dois exemplos. Ou seja, a concorrência aqui é feroz e as quatro maiores tendem a perder participação de forma mais acelerada.
Esse surto de novas marcas vem em razão do rápido crescimento das vendas no Brasil, quarto maior mercado mundial e quase quatro milhões de unidades (com caminhões e ônibus) ao fim de 2013. Isso significou lucros crescentes, mas desalinhados do resto do mundo?
Segundo Carlos Gomes, presidente da PSA Peugeot Citroën Brasil e América Latina, cerca de 70 milhões de veículos leves produzidos no mundo, em 2012, deixaram lucro aproximado de US$ 50 bilhões. Desse total, US$ 18 bi foram ganhos na América do Norte; US$ 17 bi, na China; US$ 4 bi, na América Latina; US$ 2 bi, na Europa e US$ 9 bi no resto do mundo. Nossa região representou 8% das vendas e 8% dos lucros. América do Norte, 22% e 36%, respectivamente. Quem está mal mesmo é a Europa: 22% e apenas 4%.
Nos EUA há grandes distorções. Picapes e SUVs (45% das vendas) lá são considerados caminhões leves. Mas as margens são até quatro vezes maiores do que as de automóveis, o que não se considerou em pesquisa atribuída à consultoria IHS e ao Sindipeças. Pormenor: nos EUA não há importação de picapes pois o imposto tem alíquota de 25%, cerca de 10 vezes superior ao de automóveis, desproporcionalidade única no mundo. Em carros ganha-se um tantinho e em picapes/SUVs, um tantão...
Outro estudo recente, do Instituto de Planejamento Tributário, comparou preços com e sem impostos de algumas mercadorias nos EUA, Itália e Brasil. Claro, aqui tudo muito mais caro. Escolheram o Corolla entre os automóveis, mas só o confrontaram com os EUA, alegando ser modelo indisponível na Itália. Poderiam ter elegido o Focus, vendido nos três continentes. Será porque, sem impostos, a diferença de preço é pequena, ao contrário dos itens pesquisados?
De qualquer forma o cenário obrigará a diminuir a defasagem dos lançamentos, com impactos sobre rentabilidade. O site inglês just-auto chama a atenção de que mercados emergentes desejam comprar logo os carros expostos todos os dias na internet. E citou o caso da Honda, que decidiu descentralizar desenvolvimento e compras já a partir do novo Fit, abreviando seu lançamento aqui, em 2014. Até afirmou que a filial duplicará o número de engenheiros no País.
É o caso também da Fiat. Em Pernambuco produzirá crossover utilitário e picape média dele derivado já em 2015. Em 2016, versão utilitária para a marca Jeep e sedã médio baseado no Dodge Dart/Fiat Viaggio. Para Minas Gerais, ficará o subcompacto sucessor do Mille, em 2015. Tudo com forte participação técnica de brasileiros para agilizar.

RODA VIVA

DIMINUIÇÃO de importações e recuperação de estoques fizeram do mês passado o melhor março da história: 319 mil unidades, de todos os tipos, produzidas. No primeiro trimestre a recuperação da produção, em relação a 2012, foi de 12%. Até dezembro, Anfavea espera que as fábricas produzam mais 4,5% sobre 2012, apesar de exportações fracas.
QUANTO às vendas, o presidente da associação (em fim de mandato), Cledorvino Belini, acredita que o ano será bom. Mas preferiu manter, por enquanto, previsão de crescimento de 3,5% a 4,5%, mesmo com dois aumentos de IPI cancelados até o fim do ano. Chegou a admitir 5% de avanço em 2013. Comportamento do PIB será decisivo para os resultados.
MERCEDES-BENZ deu uma guinada com novo Classe A, em versões de R$ 99.900 e R$ 109.900. De pequeno monovolume passou a hatch de estilo arrojado e coeficiente aerodinâmico dos melhores (Cx de 0,27). Interior cresceu: entre-eixos generoso de 2,69 m. Bancos dianteiros de encosto alto e alavanca seletora de câmbio na coluna de direção agradam.
MOTOR turbo 1,6 L/156 cv tem ótimo torque de 25,5 kgf∙m, entre 1.250 e 4.000 rpm. Casa à perfeição com câmbio automatizado de dupla embreagem, sete marchas. Interessante função aciona o freio de estacionamento ao se pisar com firmeza o pedal de freio, quando em marcha-lenta. Faltam GPS e faróis de neblina, justo na versão mais cara (de série, na de entrada).
UNIÃO Europeia deve rever ciclos de teste de consumo de combustível em laboratório. Números otimistas demais e difíceis de reproduzir na prática, em especial modelos híbridos. Provavelmente vão optar por correção linear dos valores, como aconteceu nos EUA e no Brasil, pois novo ciclo foi adotado há pouco mais de quatro anos.
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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon

Um comentário:

Anônimo disse...

Esse Calmon não toma jeito mesmo. E empate entre participação nas vendas e nos lucros no Brasil, mostra como pagamos caro aqui. Sabemos que os carros mais vendidos aqui são os 1,0 litro, quando não são os 1,0 litro são os hatches pequenos com motor de maior cilindrada. Óbvio que esses carros têm menor margem de lucro que sedãs médios de marcas premium, por exemplo. Mas mesmo assim, os 8% de participação nas vendas se refletem em 8% de participação nos lucros, quando deveria ser bem menos que isso, fossem nossas margens semelhantes a de qualquer país minimamente decente.