quarta-feira, 29 de junho de 2011

OS MILHÕES CAEM DO CÉU...

 O POUSO MAIS POLÊMICO DA AVIAÇÃO DE CAÇA MUNDIAL - 1983




O avião caça britânico Harrier é famoso por sua capacidade de decolar e pousar verticalmente, o que reduz custos pela diminuição de tamanho dos porta-aviões e da logística envolvida. Veja uma operação bem sucedida de pouso de um Sea Harrier num cruzador britânico.

A capacidade de pousar verticalmente impediu que este jato caísse no mar e nos proporcionou o pouso mais bizarro da aviação de caça. Em 1983, um cargueiro espanhol carregado de contêineres navegava tranquilamente na costa de Portugal a caminho da cidade de Tenerife nas ilhas Canárias, quando recebeu uma visita inesperada vinda do céu.

Ora, havia um exercício militar da Otan naquela área e o jato que você verá na bizarra posição abaixo decolou do cruzador inglês HMS Illustrious. Soube-se mais tarde que o subtenente de 25 anos que pilotava o avião não tinha completado o número de horas necessárias para fazer o tipo de operação que estava sendo proposto naquela manobra militar. Tratava-se de voar por um período às cegas, com rádio e radar desligados.

O problema aconteceu quando o piloto emergiu do vôo cego e se deu conta de que a sua autonomia de vôo era de apenas poucos minutos, tempo insuficiente para o retorno ao Illustrious, que estava a mais de 50 milhas. Foi quando o piloto avistou o cargueiro espanhol Alraigo a 12 milhas e falou com seus botões: “f..... por f...... f........ e meio!”. Ao invés de se ejetar e correr o risco de morrer afogado no mar, ele optou pelo único “pouso” disponível nas redondezas.


Naturalmente, todo o convés do Alraigo estava tomado de contêineres e também por uma van destinada a uma loja de flores de Tenerife. O resultado do pouso você vê nas fotos abaixo e tenha certeza que o capitão não levou tão na esportiva quando se poderia esperar de alguém que estava prestes a obter uma indenização da Marinha Britânica. O descontente comandante do cargueiro se recusou a devolver o penetra aéreo de volta ao cruzador inglês e decidiu prosseguir a viagem com toda a fleuma do mundo.

Para o encanto da posteridade, o navio chegou quatro dias depois no seu destino, o porto de Santa Cruz no Tenerife, para o deleite da aglomeração de repórteres e curiosos que se acotovelavam ávidos para presenciar a cena inusitada. O felizardo capitão recebeu uma indenização de 1,4 milhões de dólares do governo britânico pelo “resgate” ocasional. Nada mau para quem apenas teve uma van levemente amassada!

Harriers, por favor, pousem no meu navio!
 


 
Explicação jurídica do caso:

“(...) Lembro-me que na ocasião este incidente gerou uma batalha jurídica muito interessante.
O dono do navio (e não seu comandante) iniciou uma ação em Londres, reclamando prêmio de salvamento do governo inglês. Salvamento de vida humana é obrigatório e não dá direito a uma remuneração. Mas o salvamento de bens em perigo não. Ninguém está obrigado a se colocar em risco para salvar a propriedade de outrem, e se o faz, e a propriedade é salva, tem direito a um prêmio de salvamento, uma porcentagem sobre o valor do bem salvo. 

Este sistema é muito praticado entre navios. Existe até um contrato padrão, o Lloyd's Open Form of Salvage Agreement, apelidado de "No cure no pay", isto é, o salvador só recebe se houver um resultado útil. O prêmio é fixado depois do salvamento e não pode exceder o valor dos bens entregues em um local seguro, depois do salvamento.

O prêmio é dividido, uma parte para o dono da embarcação salvadora e outra dividida entre todos os tripulantes, de acordo com a participação de cada um.

O caso do Harrier foi o primeiro em que se aplicou o princípio de salvamento no mar a uma aeronave.

No caso do Harrier, se não me engano, o pouso em cima de um contêiner no convés do navio não teria sido de surpresa. O comandante do navio teria concordado com o plano do piloto do Harrier, navegado à feição para minimizar o efeito do vento e os balanços do navio. Poderia ter se negado a "receber" o Harrier, cujo piloto poderia ser salvo retirado do mar por sua guarnição, depois de um pouso no mar ou de ter ejetado.

O Harrier foi salvo e devolvido inteiro e sem avarias aos ingleses. Daí a corte ter decidido que o prêmio de salvamento era devido.

Vejam que 1,4 milhão de dólares corresponde a uma porcentagem pequena do valor de um Harrier. Talvez cerca de 10%.

Um comentário:

Luby disse...

o piloto é que provavelmente se fu..