sábado, 2 de abril de 2011

OS BONS TEMPOS DE MOTO...



Muita gente tem o hábito de lembrar o passado com os óculos cor de rosa da nostalgia... Mas quem passa pelas lojas de moto de hoje em dia e vê oitocentas motos diferentes, de quatro milhões de centímetros cúbicos e novecentos mil cavalos, que alcançam a velocidade da luz, não sabe o que foi a longa noite da abstinência dos anos setenta e oitenta. Nesses anos que começaram em 1975 e acabaram em 1991 com a Era Collor, era terminantemente proibido emitir guia de importação para qualquer veiculo motorizado que não fosse diplomático. Era um tal de Policia Federal perseguindo na praia os hediondos criminosos que compravam uma moto de jeitos, digamos, não ortodoxos que não era bricadeira...


E quem não tinha a grana preta pra alugar um diplomata da Babasóvia pra assinar os papéis de importação babava, tremia e morria de tesão reprimido, sonhando com sua KAWAsuki CBBB 1433 nas noites de Lua, uivando como um lobo tarado por duas rodas Essa máquina que amamos causa essas coisas, esse tesão de elefante que temos até hoje. Só que agora dá pra satisfazer o impulso erótico de ter algo quente e vibrante no meio das pernas. E novo, zero-km.


Nesses tempos a Honda mandou uma moto que fez época: a CB 400. Derivada da Hawk 400 do mercado americano, a nossa 400 era o motão que dava pra ter. Boa de quadro e suspensão para a época, e fazia curvas sem sambar e freava razoavelmente com seu disco único na frente. Mas nada que uma ponte de telescópico não resolvesse. Suas rodas eram as famosas Comstar, de elementos estampados, que não precisavam de ajuste fino e regulagem feita por feiticeiro, como as velhas 350 e 360 sambistas. Eu tive isso e sei. A 400 andava todo dia, não tinha grandes defeitos que não fossem a flexão do telescópico em freadas fortes. Um bom par de amortecedores na traseira, que a Mãe Honda japa só aprendeu a fazer muito tempo depois, e o jogo estava feito, o desejo da máquina remediado. Um tapinha e o mundo era seu de novo.


Ia a 160 bem esticadinha e dava pra viajar numa boa, sem ter medo dos carros como nas famosas enceradeiras de baixa cilindrada que povoavam o inconsciente coletivo dos viciados no vento. Fui até chefe de equipe de competição com as 400 e elas faziam a cabeça, na base até não tem tu, vai tu mesmo. Essas foram as nossas motos durante muito tempo.

Depois chegou a resposta às orações dos afissurados a sério, a RD 350 LC que andava, e forte. Mas durante muito tempo foi isso. Junto com a CBX que custava os aparelhos reprodutivos do Marajá de Baroda, essas eram as três opções para quem gostava de despir o pijama de lata e voar no asfalto.


Delas a que me deixou a lembrança mais terna foi mesmo a 400. Depois veio a 450 com duplo disco e um pouco mais de motor, uma evolução bem sucedida do desenho original. Era muito legal, tanto que sobreviveu em sua derradeira geração, a CB 500 Twin, até recentemente produzida. E a 500 era uma delícia de moto, com força suficiente para ser feliz (ou será eu que fiquei velho?) e andar bem, até ter problemas...


Uma dinastia de motos que deixou saudade, uma doce lembrança da noite autoritária, apesar de tudo... Bom tempo é agora!


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