sexta-feira, 15 de abril de 2011

ALTA RODA COM FERNANDO CALMON



Alta Roda nº 624 — Fernando Calmon — 12/4/11



MOTOR FLEX É PARA SE USAR



Etanol vendido em São Paulo a mais de R$ 2,20 o litro atingiu um valor inédito desde a estreia do primeiro automóvel flexível em combustível em 2003. Chama a atenção por ocorrer na capital do Estado maior produtor de combustível vegetal. Em todos os outros Estados brasileiros, inclusive os que tradicionalmente apresentam vantagens, entre eles Mato Grosso, Paraná, Goiás e Tocantins, ficou mais barato abastecer com gasolina do que etanol pelo critério de custo/km.


Na média, o preço do etanol deve se situar abaixo de 70% da gasolina para o automóvel alcançar custo de rodagem menor. Basta multiplicar por sete o valor da gasolina e dividir por 10. Um disco batizado de FlexCalc®, que empresas distribuíram como brinde, facilita as contas, mas a escala máxima colocava o etanol a R$ 2,10. De qualquer forma, como a gasolina quase não varia de preço, etanol acima de R$ 1,70 já significa custo/km desfavorável.

Mantém-se, no entanto, o benefício ambiental porque um motor flex usando etanol emite cerca de 80% menos CO2, no ciclo fechado de produção (do poço à roda). CO2 não é tóxico, mas um dos gases de efeito estufa, segundo 174 países signatários do Protocolo de Kyoto, de 1997.


Combustível vegetal, a exemplo do etanol, está sujeito a variações de preços entre safra e entressafra. Quando cai abaixo de R$ 1,00 todos correm para abastecer, inclusive em carros só a gasolina, que não deveriam. Crescimento súbito – ou inesperado – na venda de veículos em 2009 e 2010 desequilibrou oferta e demanda, enquanto a resposta agrícola é necessariamente demorada.


Fala-se que o etanol encareceu demais devido à cana direcionada à produção de açúcar subir de 39% para 45% do total, a fim de aproveitar preços melhores no exterior. Na realidade, nada ia segurar o preço na bomba abaixo de R$1,70/litro porque as vendas de carros dispararam, enquanto investimentos e decisões de plantio sofreram um tranco com a crise financeira iniciada em 2008.


Perto de 90% das unidades comercializadas, hoje, possuem motores flexíveis, cujo nome já diz tudo: abastecer segundo a conveniência de preço ou autonomia, opção técnica indiscutível e vitoriosa. Os compradores exigem. Houve, porém, muitos motoristas desatentos. Se, em novembro do ano passado, tivessem substituído temporariamente o etanol, se evitaria atingir os píncaros e até se refletir sobre a gasolina. Afinal, 18% do preço desta na bomba é formado pelo etanol.


Eliminar oscilações severas passa por soluções de mercado, as únicas viáveis. Shell e BP, além da própria Petrobras, estão despejando bilhões de reais na produção de etanol nos próximos anos. A estabilização de preços, sem depender tanto de safras agrícolas, passa pela transformação do etanol em matéria-prima (commodity) com cotação em bolsas de mercadorias. Há anos se ensaia essa solução, envolvendo o maior produtor mundial, os EUA.


Uma vez acertada, poderia se obter equilíbrio nos preços. Plantações situadas nos hemisférios Norte e Sul do planeta são espelhadas: safra de um coincide com entressafra do outro. Assim de acordo, Brasil e EUA poderiam exportar ou importar etanol, mantendo sempre preços competitivos ao consumidor e sem prejuízos para os produtores.



RODA VIVA



PRODUÇÃO e venda de veículos no primeiro trimestre de 2011, frente a 2010, atingiram novos recordes. Pelo comparativo da média de dias úteis, que elimina a sazonalidade, números de crescimento são menos exuberantes: 3,5% e 1,5%, respectivamente. Anfavea mantém projeção para o ano: 5% acima do resultado de vendas de 2010, alinhado ao crescimento do PIB do País.


RESTRIÇÕES crescentes quanto a volume e custo do crédito certamente se refletirão no ímpeto dos consumidores. Para um mercado que subiu surpreendentes 12%, em 2010, uma acomodação para 5% é razoável. Estoques totais de 31 dias se mantiveram em fevereiro e março. Indicam que ofertas e promoções continuarão na ordem do dia para atrair compradores.


INTERESSANTE o fenômeno envolvendo marcas premium no Brasil. BMW 320i preserva referências ímpares de prazer ao dirigir, robustez e sensação de qualidade, apesar da simplicidade de equipamentos no interior e o motor de apenas 150 cv com câmbio automático. Mas há compradores atraídos pelos R$ 113.530,00. Ao contrário do que se esperaria em outros tempos.


EXPEDIÇÃO de Los Angeles (EUA) a Ushuaia (Argentina) com a Palio Weekend elétrica partiu no último dia 9. Paulo Rollo, piloto e chefe do projeto, pretende rodar a 80 km/h. Para garantir autonomia de 100 km, entre cada recarga de oito horas, seguirá no “vácuo” do motor home de apoio que diminuirá a resistência aerodinâmica. Tempo previsto: quatro meses.


CORREÇÃO: sinalização de frenagem de emergência por meio do pisca alerta, da linha Gol, Voyage, Saveiro e Fox 2012, já nas concessionárias, é item opcional. De série, apenas no CrossFox. Apesar de solicitado, a Volkswagen não informou o preço do opcional até o fechamento da coluna.

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fernando@calmon.jor.br e www.twitter.com/fernandocalmon





































2 comentários:

Marcelo Augusto disse...

A maioria dos caros flex fica com álcool apenas a 20% de rendimento do que com gasolina, ou seja, até 80% do preço da gasolina dá pra se usar álcool.

Esse jornalita certamente não tem carro flex, e acredita no número mágico dos 70% da relação de poder calorífico. E ainda vem falar que motoristas desatentos são os culpados pela alta da gasolina...

Haja paciência!

Alta Roda disse...

Marcelo, você está fazendo confusão sobre conceitos técnicos. Etanol tem cerca de 40% menos poder calorífico do que a gasolina (sem adição de etanol). A autonomia, no entanto, só é 30% menor (em média) porque o etanol tem maior poder antidetonante e alto poder latente de vaporização, o que compensa parte do consumo de combustível maior.
As pessoas não gostam de fazer contas ao abastecer. Em oito anos de flex isso só precisou ser feito duas ou três vezes para 60% da frota rodante brasileira, localizada em Estados onde o etanol é competitivo em preço.
Se em novembro do ano passado houvesse migração sensível de etanol para gasolina, certamente o preço do combustível vegetal seria menor do que o de hoje. Não quer dizer que seria competitivo porque há várias outras razões para o preço ter disparado, como está explicado claramente.
Fernando Calmon